quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O diário de Helena - Página 10


Depois de reviver meu momento universitária, que nem tem tanto tempo assim (só tem 9 anos), com aquele delicinha do João, só podia dar m...

Lembrei da minha adolescência e de um monte de coisas até meus 24 anos. Até os 24 porque considero que fiquei madura aos 25, apenas considero, se você quiser desconsiderar eu entendo. Juro!

Abri meu armário e peguei uma caixa grande que estava guardada na parte de cima. Não sei porque tenho essa mania de guardar coisas. Guardo mágoas, amores, doutores...

Enfim, peguei a caixa, sentei na minha linda e confortável cama, que é de onde estou digitando, inclusive.

Abri a caixa e fui reviver um pouco do meu passado.

Lá dentro tinha: um caderno daqueles cheios de pergunta que a gente dava pros amigos responderem: Cor favorita? Está namorando? Apaixonado? Por quem? Deixe um recado para a dona do caderno... – Tinha um álbum do Ricky Martin, uma foto minha com a Xuxa, o ingresso de um show das Spice Girls e outro do Barão Vermelho e uma série de cartinhas que trocava com minhas amigas quando eu era mais nova. Eu era muito retardadinha, escrevia pra todas as minhas amigas, as que eu mais gostava, claro. Tadinhas, elas se sentiam na obrigação de responder e ficávamos trocando infinitas cartinhas bonitinhas. Coisa de gay, né? Nada contra os gays, amo todos de paixão, mesmo! Na verdade eu me acho gay às vezes. Bem que seria uma aventura se... Nada, deixa pra lá, foi um devaneio.

Retomando aqui... Achei uma Minnie de pelúcia, foi do meu primeiro namoradinho, Henrique. Tadinho, judiei tanto dele. Ele foi pra Disney e enchi o saco pra ele trazer um monte de coisas, mas se não trouxesse um casal Mickey e Minnie, pra ele ficar com o Mickey e lembrar de mim e vice e versa, eu ia namorar o Pedro (melhor amigo dele). Sim, eu era geniosa desde os meus 13 anos. Estudei com o Henrique até o ginásio e depois... Pera, calma, eu falei ginásio mesmo? Por favor, abstraiam. Tô me sentindo muito velha revendo essas coisas, deve ser por isso que saiu essa palavra de velho. Enfim, eu e o Henrique ficamos de namorico até meus 14 anos, mas era namorinho bobinho de dar selinho, pegar na mão, andar de mãos dadas. Minha mãe adorava ele. Mas os pais dele não gostavam de mim. Por que será, né? 


Ele chegava em casa roxo porque eu batia nele quando via ele conversando com a menina que eu mais odiava da escola, cortei um pedaço do cabelo dele quando tive um ataque de riso e meu chiclete voou na cabeça dele, aprontava na sala de aula, jogava bolinha de papel no professor, passava cola errada de propósito pra algumas pessoas, colava papel no estilo “me chute” em quem tava sentando na minha frente... E depois eu incriminava o Henrique. Ele gostava de mim mesmo assim. Digo isso porque ele levou duas suspensões por levar a culpa no meu lugar. Na verdade não gostava de mim não, ele era muito idiota mesmo. Mas... Estudamos juntos até o 3º ano do ensino médio. Eu levei minha vida aqui e o Henrique foi estudar nos Estados Unidos. Mora lá desde então. É economista, tem um casal de filhos e uma mulher linda. Quem diria, né? E eu aqui atrás de um doutorzinho que nem disca meu número.

Achei foto da mina formatura no C.A, na 8ª série e no 3ª ano. Impressionante como eu sempre tive a bunda grande, alguma coisa eu tinha que herdar de bonito da minha mãe, porque sou praticamente o meu pai numa versão feminina.

Achei também um livretinho, fininho de poesias e textinhos. Acho que foi a fase mais brega da minha vida. A fase dos amores platônicos no início da universidade. Primeiro foi por um professor de 40 anos, com cara de 30 e corpo de 25, depois foi por um amigo (que era gay) e em seguida pelo atendente da livraria em que eu ia comprar meus livros da faculdade. É, eu não tenho nenhum critério. Escrevia várias coisa pensando nesses amores maluquetes.

Por exemplo: “...e vi seu olhar de longe procurando algo que queria que fosse qualquer parte minha, implorando meus lábios encostados nos seus, decifrando o que meu coração a cada batida dizia...”

Peguei o menos pior, tá?

Guardei minha melhor prova e minha pior da faculdade.

Uma nota 2 em Direito Penal e um 10 com direito a comentário do professor em Direito Internacional Privado.

Entre outras coisas que eu não preciso entrar em detalhes porque serão muito constrangedoras. Não tenho problemas com isso, mas é que pra eu me sentir constrangida é porque é brabo mesmo.

Tive boas lembranças remexendo essas coisas. Dei boas risadas. De certo modo esse universitário entrou na minha vida na hora certa, eu precisava e distrair. Tem um doutor ocupando minha cabeça o tempo inteiro.

Vou trabalhar. Tenho uma daquelas reuniões chatas hoje, com aquele colega de trabalho insuportável também.

Mandem boas energias pra mim e a paciência de vocês também, vou precisar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O diário de Helena - Página 9



Não. O meu doutor não me ligou e nem eu liguei pra ele. Por que eles prometem ligar se nunca ligam depois? Só pra fazer o fofo? Ah, vai dar meia hora de... Cabeçada na parede. 

Enfim, por mais que eu queira esse homem mais que tudo, ele precisa fazer o papel de homem, né? Ligar, apenas isso. Não que eu não tenha atitude o suficiente pra fazer, eu até quero, quero muito. Mas vou bancar a difícil dessa vez. 

Bom, hoje não vim pra falar do Rodrigo. Milagre, não?
Vim contar uma super aventura que tive no bar com a Amandinha. Mentira, super aventura nada, foi só uma experiência diferente, digamos assim. Hahah. 

Fomos a um barzinho aqui perto de casa, bem conhecido até. Um lugar bem aconchegante, dão umas pessoas bonitas, tem música ao vivo. Já fui lá algumas vezes. Poucas, na verdade. A Amandinha terminou com o Leo (DJ) e já tava louca por uma nova boca. 

Chegamos lá e era um show no estilo ‘mistureba’, a banda tinha um repertório vasto, que ia da MPB ao axé. Interessante até, tudo que pediam eles tocavam. Foi bem divertido. 

Pegamos uma mesa perto do palco e logo começamos os trabalhos. De início, caipirinha pra agitar. Mal conversamos, Amandinha tava louca, dançando e cantando, na verdade se insinuando pro vocalista, que por sinal, cantava olhando, quero dizer, comendo a minha amiga. Eu tava me divertindo extremamente vendo aquela situação. Comecei a ficar alegrinha e também entrei no clima da Amandinha. Mas não, não me insinuei pra ninguém da banda, todos muito chinfrins pra mim. 

Nessa de tanto dançar e cantar, já com o barzinho lotado ao extremo, eu não avistava nenhum garçom. A sede me dominava, resolvi ir até o bar pedir uma cerveja. Quando cheguei lá, tinha um carinha pedindo. Olhei pra ele e meu alerta ‘homem maravilha’ já apitou freneticamente. Pedi minha cerveja e ele disse: 

- Não, não pede não. Acabei de pedir essa. Pede um copo no lugar de uma garrafa. 

Achei aquilo o must da maravilha. Pedi um copo, ele me serviu, brindamos e bebemos um gole. 

- Desculpa eu te abordar assim, mas é que eu já tinha te visto por aqui uma vez, hoje tornei a te ver lá na frente dançando, resolvi então te dar um oi, mais que isso, ser gentil. – Ele me disse com um sorriso estampado. 

Continuei bebendo e agradeci a gentileza. 

- Não me lembro de você por aqui, até porque vim poucas vezes e sempre tava muito cheio. Já é cliente da casa? – Eu disse disfarçando meu interesse por aquela boca vermelha, linda e maravilhosa, envolta de uma barba ralinha. 

- Não, não, vim poucas vezes também, talvez um pouco mais que você. Sou amigo do pessoal que tá tocando aqui hoje. Mas me diz o seu nome, nem perguntei, desculpa a minha falha! – Ele disse sorrindo, dando um gole naquela cerveja que parecia estar mais gostosa que as outras. 

- Helena. 

- Sou João. – Ele disse, extremamente charmoso. 

Não precisamos de muito papo não. Já fomos logo ao que interessava. Ele até tinha um papo legal, mas eu queria muito sentir aquela barba roçando no meu rosto, no meu pescoço. Ficamos ali naquele amasso gostoso, quando não sei por que cargas d’água, ao pedirmos mais uma cerveja, eu resolvi perguntar mais sobre ele, me interessei. 

- Mas me conta, você trabalha com o que? 

- Arquitetura. Na verdade eu estagio. Ainda estudo. 

OH WAIT! Pesquei um universitário? Eu sou demais nas escolhas! 

- Idade? – Eu questionei. 

- 25, recém-completados mês passado. 

Não aguentei e soltei uma risada controlada, mas de forma fofa. 

- Do que tá rindo? – Ele me perguntou rindo também. 

- Nada, na verdade nunca ia imaginar que você tem 25. Parece ser mais velho. 

- Nossa, eu tô tão acabado assim? – Ele disse brincando. 

- Não... É que sei lá, seu jeito, seu papo, sua postura, nunca imaginaria que teria 25. – Eu disse surpresa. 

- É que eu sou um cara bem legal, modesta a parte. Sei ser homem, não sou como esses por aí que saem se atracando com a primeira que vê, que não ligam quando dizem que vão ligar, que só pensam neles... 

Juro, juro que eu me contive pra não dizer: “Ah, então você é o cara inimaginável e inexistente da música do Roberto Carlos? O cara que pensa em você toda hora, que conta os segundos se você demora...” 

Eu apenas sorri e voltei a beijá-lo, me poupei de saber qualquer outra coisa que pudesse me deixar com mais vontade de rir. 

A Amandinha, como eu imaginei, pegou o vocalista lá da banda. Saíram do barzinho juntos. O João me levou em casa. Não, não foi de carro, nem de bicicleta, nem a pé, foi de táxi mesmo, hahahaha. 

Mas não trocamos telefone, ficamos de nos esbarrar lá pelo bar de novo. Sem contar que de certa forma ele sabia onde eu morava. 

Agora vamos às reflexões. 

Ele é bem bonito, tem um papo legal, tem pegada, parece ser inteligente e divertido. Mas imagina a situação: “João, pra onde vamos hoje?”, “Poxa, Helena, tenho que dar prosseguimento na minha monografia, vamos sair outro dia?”, “Não, meu universitário baby, eu vou é sair hoje mesmo, com ou sem você, boa sorte na monografia!”, hahahaha! 

Sem contar que os caras que optam por exatas, normalmente são bem doidos das ideias. Mas eu não quero saber disso, me diverti com essa minha pesca. 

Literalmente eu escolho a dedo os carinhas mais improváveis pra minha personalidade. Um universitário homem maravilha, terminando a faculdade, 25 aninhos, quanta sorte junta! Mas eu gostei dele, eu confesso. 

O balanço da noite foi ótimo, não paguei mico, não fiquei bêbada, minha calcinha não rasgou e não pensei no meu doutor. 

Mas em compensação passei por uma nostalgia tremenda que me levou a revirar fatos passados do tipo “o meu passado me condena”. 

Conto no próximo post.

domingo, 25 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 8

Passei o feriado e o fim de semana em casa, comendo sopa fria, tomando sorvete e milkshake. Até achei que fosse emagrecer, mas mantive meu peso, que não vou revelar, claro. Além disso, analisei alguns processos. Enquanto meus colegas de trabalho viajaram, foram pra noite, eu fiquei em casa, com menos um dente pensando no meu médico e possivelmente errando na análise de todos os processos. As coisas que aquele atendente babaca me falou não saíram da minha cabeça. 

Eu aproveitei pra ver uns filmes também. Mas cara, eu fiz uma coisa que acho que mudou minha vida. Comecei a ler ‘50 tons de cinza’. Christian Grey tá na disputa com meu doutor. Fantástico, não é só porque é rico, empresário e maravilhoso, mas é porque literalmente ele é um personagem que não merecia a Anastasia. Grey, prazer, Helena Maia Dualibe. Vem me buscar e me leva pro seu mundo, seu sedutor super sinistro de bom!

Bem, voltando pra minha realidade, esperei meu telefone tocar torcendo por ouvir um “Oi, Helena, é o Rodrigo, como vai?”.

Mas até agora nada. Quero dizer, nada de Rodrigo, porque minha mãe voltou a me ligar pra me contar sobre o tal do boy dela (a velhice tá braba, achava que não tinha me contado, então tive que lembrá-la da nossa conversa altamente estranha ao telefone naquele péssimo dia), e a Amandinha depois de alguns dias me ligou. Adivinhem pra quê? Pra falar sobre o Leo, vulgo DJ.

Vamos então ao que interessa.

Eu estava linda e gostosa de pijama no meu sofá, toda esparramada e confortável vendo “My week with Marilyn”, quando meu telefone toca. Por mais que eu o estivesse ouvindo, eu não o encontrava de jeito nenhum. Nessa de esperar meu Rodrigo ligar, o levava pra todo o canto. E o último que o deixei foi no vaso das minhas orquídeas lá na varanda. Encontrei ele e atendi com o coração no ritmo de uma escola de samba.

- Alô? – eu disse esperançosa (e com voz sexy)

- Sua putinha, se eu não te ligo você não me liga, né? Por que demorou pra me atender? Tá com alguém aí? Tô atrapalhando? – Amandinha me interrogou.

- Gata, olha só, você tinha ficado de me ligar, não? Até então não sabia que tinha voltado. Não, infelizmente tô sozinha aqui. – Falei decepcionada.

- Tá com tempo?

- Tô, amiga. Fala aí, como foi a viagem?

- Ah, amiga, foi mais ou menos, eu senti o Leo meio esquisito, sei lá, parecia estar com o pensamento longe ou pensando em me dar um pé na bunda... – Comentou triste.

Nesse momento eu engoli a seco, dei um tapa proposital na testa e me lembrei que ainda não tinha contado como tinha sido meu fim de noite no baile funk e nem que eu já conhecia o Leo e tive um caso com ele.

- Então, antes de você continuar eu preciso muito te contar um negócio. – Falei apreensiva pra cacete.

- Siiiiiiiiim! Me conta como foi lá no baile, curtiu? Pena que você sumiu e não deu pra eu te apresentar o ... – A interrompi.

- Eu já conheço o seu DJ.

- Conhece? Como conhece? – Ela me indagou surpresa.

- Há um tempo atrás nós tivemos um lance, como diz me por aí, um lance sem romance.

- Peraí, você e o Leo? Mas você nem viu ele, eu nem apresentei vocês... Como assim?

- É, Amandinha, eu fui atrás de você lá e quando vi você com ele, fugi que nem o capeta foge da cruz.

- Por que?

- Porque ele me infernizou um pouquinho, se apaixonou por mim, eu não queria nada, ficou correndo atrás, enfim... Aquela história toda que acontece com mulher apaixonada, só que, no meu caso, aconteceu uma inversão.

- Entendi... Mas se já faz tempo, por que não foi lá só dar oi? Será que ele ainda não te esqueceu? Não é possível, amiga.

Eu confesso que fiquei muito surpresa com a reação dela. Não esperava que ela reagisse assim, no mínimo esperaria algo do tipo “porra, sua puta, nem me contou antes essa história que aconteceu contigo”. Mas tudo bem, melhor assim, né?

- Pois é, Amandinha, ele desistiu de mim na época, mas disse que se me visse algum dia iria tentar algo, por isso fugi. Pra não ter um chiclete grudado no meu silicone e lógico, pra em consideração a você.

Amandinha ficou um pouco em silêncio e minha espinha chegou a se arrepiar. Ela podia estar querendo me matar, ou não, sei lá.

- Quer saber? Que se dane esse babaca. – Ela disse revoltada.

Eu não entendi a atitude dela, achei que tinha feito merda.

- Oi? Até então você tava meio triste porque a viagem não foi boa, eu te conto um negócio desses, você se cala e manda essa... Wtf?- Eu disse sem entender.

- Tu deve saber, né, amiga. Ele nem é tão bom de cama, o beijo é razoável, não vai me dar futuro e ainda quer dividir todas as contas.

- Pior que é mesmo. Tu merece um cara mais interessante, em todos os sentidos. O Leo é lindo sim, mas é exemplo vivo de que beleza é só pra ser apreciada mesmo, porque na hora do vamos ver...

- Menina, você acredita que ele brochou?

- Acredito, amiga. Ele brochou comigo uma vez também. Bem no nível ‘a pipa do vovô não sobe mais’. Realmente, sai dessa, pula fora, não dá não. – Eu contei.

- Helena do céu, que babado. Então o cara é pró na arte de fazer, quero dizer, de não fazer nada? Menina... É, vou dar um pé na bunda merecido. Até porque tamanho é documento.

- Amandinha, eu prefiro nem entrar nesses méritos 
 Ri compulsivamente.

Contei pra ela da minha aventura com o Catra, ela ficou em êxtase e "P" da vida por não ter visto. Combinamos um barzinho pra semana que vem.
Mas eu ainda estava ansiosa. E agora, não só ansiosa como preocupada. A Amandinha desligou o telefone falando que ia terminar com o Leo. Espero que ele não arrume um jeito de me achar.

De brocha e deprimente já basta essa vida chata de esperar por um telefonema, né?
Voltei a ver meu filme, dessa vez com o telefone ao lado. Dormi e acordei com a boca aberta e com baba. Não sou assim, juro. Nem o filme tava ruim, pelo contrário, eu tava amando. Mas sei lá porque eu dormi.

Acordei com fome, pra variar, e lá fui eu pra cozinha preparar meu super cardápio ultra máster variado e delicioso.

Que vida e que fase!

Semana que vem tem barzinho, espero ter uma aventura pra contar. Se algo acontecer antes, volto sem nem pensar!

Será que meu Doutor liga? Será que eu ligo? Alguém me dá uma dica?

Até mais.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 7


Tirar siso é tão ruim. O lado bom é que não tô com a boca inchada, mas não poder comer é um suplício.

Fiquei de contar o encontro com o meu doutor, né? Então lá vai.

Olhei pra ele e não acreditei muito bem que era ele mesmo.
Eu tinha 30 reais na mão pra pegar o remédio e fiquei como uma estátua enquanto meu cérebro absorvia a imagem dele, e enquanto eu me certificava de que não era um sonho.
Até porque nos meus sonhos mais quentes, nunca imaginei encontra-lo justo na farmácia.
Na minha casa, na casa dele, num restaurante, num bar, em qualquer outro lugar. Mas eis que ele estava ali, lindo como sempre (e ao extremo) na minha frente.

- Helena, que coincidência te encontrar por aqui.
Eu permaneci calada, com cara de menina apaixonada que acabou de perder a virgindade olhando pro cara que ama.

- Tá tudo bem? Você tá precisando de alguma coisa?
Meus pensamentos diziam: sim, tô sim, da sua boca na minha, do seu corpo no meu, desse homem lindo e maravilhoso acordando do meu lado todos os dias...
Ele viu o anti-inflamatório na minha mão e perguntou o que houve.
Nessa altura eu já tinha me certificado que era ele mesmo e que não era sonho.
Então me atrevi a falar com aquela voz de traveco cheia de algodão na boca.

- Oi, Rodrigo. Nossa, olha intimidade, quero dizer, oi, doutor. Tô bem, não nos meus melhores dias, acabei de voltar do dentista, tirei um siso.
Acho que pra falar essa frase eu demorei  5 minutos cronometrados. Tava fazendo figa em pensamento pra ele ter entendido o que eu disse, o algodão me atrapalhava muito a falar e me fazia salivar loucamente.

- Poxa, que chato, Helena. Nem vai aproveitar o feriado, né?
Mais uma vez meu pensamento me cutucava: vou, com você, lógico, só me falar pra onde vamos. Acho que queijos e vinhos cairia bem, um fondue, sei lá.

- Pois é, infelizmente. Mas tinha que tirar logo e aproveitei pra ficar em casa quietinha esse feriado, até pra não faltar o trabalho.
Mais 5 minutos pra falar e voz de bêbada.
O atendente me pediu licença e pegou o dinheiro que tava comigo e prontamente me deu o troco.

- Ah, é, aproveita pra descansar mesmo e cuida dessa boca direitinho. Sabe que só pode tomar gelado, né?
Eu não acreditava que tava tendo um diálogo desses com ele. Eu querendo falar de amor, namoro, casamento, filhos, e ele insistindo no meu siso, mas tudo bem.

- Pois, é...
Pois é??? Isso é resposta que se preze? Pois é, foi a que eu dei.
Mas pelo menos a minha frase seguinte me rendeu boas suposições.

- Só espero não ficar com o rosto inchado, né, já basta ficar em casa de molho no feriado...
Ele me olhou e abriu um sorriso, um sorriso não, o sorriso mais lindo do universo.

- Coloca gelo, toma o remédio direitinho e toma bastante gelado. Pode ter certeza que não vai inchar. Mesmo se inchar, você continuaria linda. A propósito, você tá muito bonita.
OMG! Sim, ele disse que eu tava muito bonita!

- Ah, doutor, agradeço o elogio, mas tô longe de estar bonita, sem dente e cheia de algodão na boca.
Ele me abriu mais um sorriso e encostou a mão no meu braço
- Que é isso, Helena, você é linda.

Pensamento podre: claro, você colocou um baita dum peitão em mim, se eu não tivesse, no mínimo gostosa, acho que seu trabalho não teria sido tão bom.
Eu tentei sorrir e agradeci um pouco sem jeito. Sim, acreditem, eu fiquei sem graça.
Ele colocou a mão no bolso e pegou a carteira.

- Olha Helena, esse aqui é meu cartão novo. Troquei de telefone lá no consultório, tem meu celular também. Se precisar de alguma coisa me liga. Se não precisar também pode ligar, quando melhorar podemos nos ver de novo.
OMG, OMG, OMG, OMG!
Engoli a seco, pensei estar com problema de audição, visão, tudo junto. Mas peguei o cartão dele e guardei na minha bolsa.

- Poxa, obrigada, doutor, eu...
Ele me interrompeu.

- Rodrigo, me chama de Rodrigo. Doutor só no consultório.
Fiquei um pouco sem graça mais uma vez e me desculpei pela minha formalidade.

- Tá tudo bem. Bom, tenho que ir. Ainda vou atender hoje. Foi ótimo te rever.

- Foi ótimo te ver também, Rodrigo.

- Bom, eu já vou indo, mas antes...
Ele pegou o Iphone dele do bolso, meu coração disparou.

- Você pode me dar o seu telefone?
OMG, OMG, OMG OMG, OMG, OMG!
Pensamentos podres - a volta: eu dou é o que você quiser, seu lindo, gostoso.

- Claro.
Dei o número, ele anotou.

- Bom, tenho a opção de te ligar também. Agora vou mesmo.
Ele me deu um beijo ma-ra-vi-lho-so na bochecha e foi embora.
Eu fiquei ali plantada igual a um 2 de paus delirando sozinha, quando o atendente me fala:

- Você podia ser mais discreta.
Eu olhei pra ele sem entender e o questionei.

- Qualquer um vê que tá escrito, melhor, tatuado o nome desse cara aí na tua testa. Não seja tão fácil.
Ora, ora, quem esse babaca pensa que é pra falar assim comigo.

- Jura que dá pra ver isso na minha testa? Será que ele percebeu?

- Bom, se ele percebeu eu não sei... Ah, deve ter percebido sim. Mas pelo menos uma noite contigo vai querer, pegou seu telefone.

- Ô garoto, vai trabalhar, vai. E me respeita, sou advogada, sabia? Posso te acusar por calúnia.

Virei as costas e fui embora.
Aqui estou eu, sem saber de absolutamente nada. Pensando no elogio que recebi do meu doutor, mas ao mesmo tempo pensando no que aquele atrevido daquele atendente me disse.

E agora?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 6


Vou descrever a minha real situação no momento: cara de empada amassada, sem uma parte do juízo, com vergonha, mas feliz de certo modo. Bem, até certo ponto.

Tô ouvindo Roxette no máximo, meus vizinhos daqui a pouco vão chamar a polícia, o síndico, ou bater aqui pra tentar quebrar meu som... Eu não tô nem aí!

“Listen to your heaaart when he's calling for you, listen to your heaaaart there's nothing else you can do…”, por que esse comportamento? Porque eu me chamo Helena Vanilha, tenho 32 anos, sou uma advogada bem sucedida, tenho meu apartamento, meu carrinho lá na garagem, mas meu doutor que é bom, nada.

Essa semana senti uma dor na gengiva, na altura do siso inferior, do lado direito da boca. Liguei pro meu dentista e ele logo me pediu uma radiografia. Levei pra ele e descobrimos que eu teria que tirar o dente. Mas não pude tirar no dia em que estive lá, exatamente há 3 dias. No dia seguinte eu precisava estar no fórum sem falta, então adiei pra hoje a extração.

Quando cheguei lá, soube que meu dentista não estava, teve um problema e nem chegou a ir pro consultório. Tinha duas opções: ou eu esperava pra tirar com ele num outro dia ou eu tirava com outra pessoa e aproveitava o feriado pra relaxar em casa, sem me preocupar em faltar 2 dias de trabalho. Pensei um pouco e disse pra secretária que eu tiraria naquele dia com qualquer outro cirurgião.

Ela pediu pra eu esperar um momento e rapidamente veio até mim e me levou para uma sala.
A visão do paraíso me esperava encostado na porta. Olhos azuis altamente penetrantes, cabelos loiros, curtinhos, lisos... provavelmente cheirosos e carentes por um afago. Olhei logo para o jaleco e vi seu nome: Daniel. Esse Daniel não falou nada e já me levou pro céu em segundos. Dr. Dualibe, se minha paixão por você não fosse patológica, esse Daniel, mesmo com uma aliança de noivado no dedo, certamente seria meu.

Ele me cumprimentou, olhou minha boca e perguntou se eu estava pronta pra darmos início ao processo de remoção do siso. Eu disse que sim e lá fomos nós. Primeiro a anestesia, foi supertranquilo. Depois ele cortou minha gengiva, mais tranquilo ainda. Não sentia nada e ainda tinha aqueles olhos azuis todos voltados pra minha boca. Que delicinha, meu Deus!

Mas nem deu tempo pra sonhar. Ele começou a cavucar meu dente, como se o siso fosse uma espécie de baú repleto de tesouro enfiado na terra, e ele um pirata louco e obcecado por roubar aquela preciosidade. Fechei os olhos com força porque tava incomodando e ouvi aquela voz máscula extremamente gostosa me dizer: relaxa, relaxa, relaxa, já estou terminado, fica tranquila.

Tem como não dar ouvidos pra uma gostosura dessas? Eu respirei, relaxei e continuei namorando os olhos dele. Ele tirou o siso, me mostrou e pegou a agulha e a linha pra dar o ponto. Terminou, colocou dois chumaços de algodão na minha boca e me disse que ia me receitar um anti-inflamatório. Enquanto ele escrevia eu tentava cuspir aquela saliva de sangue, mas eu fiquei toda atrapalhada. O algodão não deixava eu cuspir direito, mas tentei a todo custo antes que ele virasse. Mas não adiantou, quando eu consegui cuspir direito ele virou e me pegou naquela cena bem linda, com cuspe dependurado na boca caindo naquela mini pia que tem ao lado da cadeira onde a gente deita.

Ele pareceu nem ligar, mas eu me xinguei internamente de tudo quanto é nome.
Me deu o papel com o nome do remédio e me pediu pra tomar bastante gelado e higienizar com cuidado o local do ponto.
Mesmo com aquele chumaço de algodão na boca me atrevi a soltar: você tá aqui sempre? – com uma voz de traveco na dúvida se ainda é homem ou é traveco mesmo.

Ele respondeu que só vai quando é preciso, mas que só faz cirurgias, que a parte clínica ele não faz. Voltei a falar, com a voz travecuda: ai, que azar que eu dei!

Porra, como assim eu falei isso? Tô na seca do nordeste mesmo, não tem jeito, minha boca sai até falando mesmo não podendo.

Saí linda do consultório e resolvi passar logo na farmácia pra comprar meu remédio.
Quando eu cheguei lá, vi um cara de costas, que só de costas parecia ser o Mister mundo mais bonito de todos os tempos. Fui chegando perto, me aproximando devagar, em passos gatunos, leves e maliciosos (sim, maliciosos, que bunda bonita esse protótipo de Mister tem...), mas logo fui interrompida pelo atendente da farmácia. Dei a receita do remédio e o Mister mundo se aproximou de onde eu tava, há uns 6 passos de mim, ainda de costas.

E tava vestido tão bonito, elegante, sexy, com uma calça jeans escura, uma camisa social com risca de giz azul clara, manga dobrada...
O atendente me chamou: aqui senhora, 25 reais a caixa.

Abri a bolsa, peguei a carteira. De repente escutei: Helena!
E a voz vinha da direção do Mister(ioso). Quando olhei pro lado dele...
Era o meu Doutor, ele mesmo, o meu Rodrigo Dualibe.

Como foi esse encontro?
Conto no próximo post. Tá na hora de eu fazer meu almoço: milkshake.

Uma dica: ouçam Roxette, é tão bom!

sábado, 3 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 5

“Sabe esses dias que tu acorda de ressaca, muito louco, doidão...”, já dizia o Catra. 

Acho que eu nunca fiquei com uma ressaca tão sinistra como essa. Não senti nada ontem, mas hoje... Minha cabeça dói num nível master. A cada vez que pisco os olhos parece que explode uma bomba na minha cabeça. Meu fígado é muito potente, não passei mal, mas em compensação, hoje estou com uma gastura, um gosto ruim na boca e com azia. Tudo isso porque eu misturei cerveja, vodka, energético e uma bebida louca lá que me deram que eu não faço ideia do que era, mas até que era boa.

Devo explicações aqui, eu sei. É sobre elas que vim falar e terminar de contar o fim da minha incrível noite, que pode-se ler como fim da minha incrível aventura.

O DJ... Quem era o DJ?

Há mais ou menos um ano eu estava numa festa de casamento de uma amiga. Cheia de homens lindos e partidos interessantíssimos pra uma advogada encalhada. Mas fui me interessar por quem? Logo pelo DJ. Ele tava lá no espacinho dele tocando e eu olhando pra ele e dançando pra que me visse. Ele me viu, no fim da festa ficamos juntos, foi bom, gostoso, ele pegou meu telefone e eu pensei: Ah, Deejayzinho, deve pegar todas, toca em festas sempre, nunca iria me ligar...

Não é que ele me ligou no dia seguinte! E no outro, no outro, no outro... Foi esse o problema. Ele é uma delicinha, mas é um grude infernal. O pior foi que da última vez que nos vimos ele disse estar apaixonado por mim. Eu tive que trocar o número do meu telefone e passar uns tempos na casa da Amandinha, porque até onde eu morava ele descobriu e me cercava.

Até que ele descobriu meu e-mail e enchia minha caixa de entrada com e-mails apaixonados, grudentos e bregas. Eu lia todos, ria com alguns, morria de rir com outros, mas um me preocupou. Nesse ele disse que iria sumir, parar de me embarreirar e continuar a vida dele, mas que se um dia me encontrasse por um acaso, por obra do destino, ele não iria perder a oportunidade e iria me conquistar a qualquer custo, independente da circunstância.

NÃO! Ele não podia me ver naquele baile funk, a Amandinha não podia me apresentar ele, muito menos os amigos dele, que cá entre nós, devem ser tão grudentos quanto ele. Pobre Amandinha, mal sabe onde está amarrando o seu bode.

Então aconteceu o que eu disse, fugi dele como o diabo foge da cruz. Nessa fuga esbarrei com uma garota que estava gritando loucamente pro Catra que queria ser uma das mulheres dele. Não sei porque, mas eu achei aquilo genial e fiz amizade com ela. Cara, pensa bem, como é que uma pessoa pode querer o Catra? E tem mais, não é só o fato de querer ele, mas de dividir ele também. Acho que a coragem e a loucura dela me chamaram atenção, me distraiu e comecei a gritar com ela. Não gritei que queria o Catra, gritei que ela queria ele. Vejam bem!

Aos trancos e barrancos, naquela multidão de tigrões e tchutchucas fomos indo para perto do palco e a garota ensandecida gritando sem parar. Ele terminou uma música, olhou pra nós e nos chamou pra subir no palco. Então eu disse pra ela ir lá pegar o rei do funk. A vaquinha não me arrastou junto?

“Amiga, amiga, querida, bonitinha, oooow, funkeira, mulher do Catra, maluca, doida, besta, idiota... não, não, não me leva pro palco não, me solta, espera, por favor, eu não posso ir...”, nada do que eu falei pra ela adiantou. Mas não sei o que me deu, porque ao mesmo tempo que eu tava com medo de ir pra aquele palco e o DJ me descobrir, eu tava querendo muito estar do lado desse tal de Mr. Catra.

Eu fui, né? A garota agarrou no pescoço do cara e falou que era louca por ele. Ele então disse que pra ela ser uma das mulheres dele tinha que passar por uns testes e que o primeiro seria o da bundinha durinha. Pra isso ela vai ter que rebolar e dançar um funk cantado por ele e o público julgar o desempenho dela.

Meu pâncreas torceu com a possibilidade de fazer aquilo ali. Mas eu liguei o foda-se e fiz também, mesmo ele não pedindo pra mim. Aquela platéia de tigrões e tchutchucas julgaram a dança da minha colega como uma dança muito boa. Ovacionaram a garota. Mas gritaram pra mim tb: ô branquela, tu não é da raça, mas tu dança gostoso e tem uma bunda bonita! Ouvi isso de um 'nem' que tava perto da gente.

Era tudo que eu precisava saber: danço gostoso e tenho uma bunda bonita. Dr. Dualibe, por que você não vê isso, meu bem?

A minha colega terminou no camarim do Catra, não sei se ela conseguiu alguma coisa com ele. Eu desci do palco logo depois, uns tigrões vieram com essa bebida louca que eu disse que bebi, me deram, a gente dançou muito, nessa de fazer chão, chão, chão eu rasguei a minha calcinha não sei como, mas fiquei muito feliz.  
Primeiro, porque eu descobri que danço gostoso e tenho a bunda bonita, segundo, porque eu dividi o palco com o Catra e terceiro, porque acho que o DJ chiclete não me viu. 

Voltei pra casa de táxi, não sei como nem quem me colocou nele. Amandinha me ligou ontem dizendo que ia viajar com o DJ e voltaria amanhã... Só então vamos conversar sobre minha noite louca e contar pra ela sobre o mistério e a armadilha do DJ.

Apesar de tudo eu ainda te amo meu Dr. lindo.

Acho que agora cai bem um engov, um sal de frutas, sonrisal, Coca-cola...

Talvez, muito talvez “vodka ou água de côco, pra mim tanto faz...”

Se alguém encontrar meu Dr., avise a ele que eu sou capaz de casar com ele tipo agora.
Beijo pra vocês.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O diário de Helena - Página 4

Eu sinto que eu não devia contar isso aqui. Mas não tem ninguém lendo a não ser eu mesmo. Que Deus me ajude a ponto de nunca deixar meu Dr. Rodrigo Gostoso Dualibe um dia ler essa minha estranha psicose. 

O que aconteceu? Bom, depois daquela conversa de maluco que tive com minha mãe, detonei metade de um bolo de chocolate numa única tarde. Depois que me olhei no espelho com a boca borrada de calda de chocolate, senti mais ou menos como um homem deve se sentir quando broxa. O que eu fiz? Resolvi tomar uma atitude. Não tem atitude melhor que nessas horas ligar pra Amandinha. Ela fez cursinho pré-vestibular comigo, ficamos muito amigas, apesar dela ter ido pra Design e eu pra Direito, acabamos indo pra mesma faculdade, então sempre estávamos juntas. Amandinha é aquela amiga rata de night, que sabe de todas as festas e eventos que bombam. O que eu mais precisava era de uma noite inesquecível pra justamente esquecer o que a minha mãe tinha me dito.

Liguei pra Amandinha e ela me disse que tinha um evento ‘SSB - super sinistro de bom’ naquela noite. Essas foram as palavras dela, “super sinistro de bom”, então, por que não aproveitar e ir num evento SSB? Coloquei um vestidinho preto magnífico que eu tinha, coladinho no corpo, botei meu saltão, me maquiei e esperei a Amandinha na portaria do meu prédio. Ela veio me buscar.

No carro fomos ouvindo músicas do nível Candy Shop, do 50 cent. Tudo bem, sem problemas. Mesmo. Amandinha me disse que tava de amizade colorida com o DJ da night que íamos hoje, que ele era um Deus grego e tinha vários amigos pra me apresentar. Senti um fogo subindo pelas minhas pernas. Era isso que eu estava precisando, não é não? Homens, beijar na boca, dançar e álcool.

Só que pegamos um caminho que eu não entendi muito bem. Amandinha estava entrando numa favela. Então perguntei pra ela por que estávamos pegando aquele caminho e ela disse que era porque a festa ficava ali, bem pertinho. Ok, lá fomos nós.

Ela estacionou o carro e ainda não tínhamos saído da favela. Então eu perguntei pra Amandinha pra que diabos de night ela estava me levando. Ela mandou eu calar a boca, saiu do carro, me chamou e logo pegou na minha mão e fomos entrando no lugar. Onde eu fui parar? Num baile funk!

Eu soltei uma risada tão alta... e a minha linda e doce amiga logo disse que era daquilo que eu precisava pra esfriar a cabeça: chão, chão, chão, chão...
Quem tá na chuva é pra se molhar, né? Eu nunca tinha ido a um baile funk, sinceramente era uma experiência que eu sempre quis ter! Amandinha realmente é muito boa nas escolhas.

Fui tratando logo de beber... cerveja, muita cerveja pra lavar a alma e deixar a mente no brilho. Aquele pancadão todo era sensacional, eu tava doidassa sem nem ter bebido metade do que preciso pra ficar bêbada. Perdi de vista a Amandinha, que deve ter ido procurar o tal do Deus grego que era o carinha que ela estava pegando. Eu só sei que quando eu ouvi aquela risadinha do Mr. Catra e ele entrando no palco gritando que ia começar a putaria, eu dei o grito mais SSB do mundo! Logo senti um carinha se aproximando de mim, falando no meu ouvido “tchutchuca, vem aqui pro seu tigrão!”, minha primeira reação foi rir, a ponto de deixar escapar da boca uns pinguinhos da minha cerveja. E ele continuou “vem tchutchuca linda, senta aqui com seu pretinho, vou te pegar no colo e fazer muito carinho”, eu olhei no fundo dos olhos dele e perguntei se ele conhecia o Mr. Catra, ele disse que sim e apontou pro palco. Então eu logo falei que entre Catra e Tigrão, a tchutchuca linda preferia Catra. Fui quicando e mexendo o ombrinho para o mais perto do palco possível. E o Catra começou “uh uh papai chegou!”, eu só posso dizer que foi a melhor sensação da minha vida. Me senti livre, linda e gostosa, nem sei o motivo. Provavelmente aquela cerveja devia ser especial e eu já estava no grau.

Mas o melhor ninguém sabe, vi a cabine do DJ que ficava pertinho do palco e consegui ver que a Amandinha estava lá, fui, no meio daquela multidão cheia de tigrões, tentando chegar perto. Quando vi quem era o DJ fiquei tão surpresa que eu não conseguia falar nada, me virei de costas e voltei quicando e mexendo o ombrinho pro meio da galera, gelada, sem reação.

No próximo post eu conto quem era o DJ e como eu fui parar no palco do Catra. Sim, eu fui parar no palco com o Mr.

Já estou atrasada para o trabalho. Só pra não perder o costume, queria mandar o Júlio, aquele mesmo lá do meu escritório, lembram? Então, queria mandar ele para aquele lugar. Queria dizer também que eu sou muito bandida! Sem a menor intenção de roubar e plagiar você, querida Valéria.

Obs: Na noite carioca o funk é isso aí, quem tá de fora vem, quem tá dentro não quer sair! Viva Mc Koringa!

Um beijo e até mais.

O diário de Helena - Página 3

“Helena Maia Vanilha, aceita Rodrigo Dualibe Castro como seu legítimo esposo?”
Ah, padre, por favor, no próximo sonho comece logo da parte do “pode beijar a noiva”... Esse cirurgião ainda vai casar comigo!

O papo com a minha mãe ontem no telefone só podia dar nisso. Ela ligou pra minha casa perguntando onde eu estava. Acho que a maluquice é uma coisa de genética. Logo perguntei “ué, você ligou pro meu celular ou pra minha casa?”, e ela, mais rebelde que um adolescente na pior fase da rebeldia responde “eu é que vou saber pra qual número eu liguei, não me faça perguntas difíceis!”. Então eu respondi que estava em casa. Acho que foi a pior coisa que eu podia ter dito, tive que escutar uma ladainha altamente chata: “Helena, mas o que é que está havendo com você, minha filha? E os boys?”, para, para tudo!

A minha mãe me perguntou sobre os “boys”, como assim?

“Boys, mãe? Que boys?”, eu ainda não acreditava no que ela estava me dizendo.

“É, Helena, os boys, os bofes, os carinhas lindos, cheirosos e poderosos... vai me dizer que não está saindo com ninguém?”

Era demais ouvir minha mãe falando daquele jeito, mas tudo bem, eu ia descobrir o motivo.
“Não estou saindo com ninguém não...”
Ela suspirou ao telefone e eu pressenti que lá vinha um testamento pronto.

“Helena, você já tem 32 anos, meu bem. Vai ficar encalhada a vida inteira? Coloca uma roupa que valorize essa sua bunda maravilhosa que herdou de mim e esses peitões lindos que tem agora e vai à luta! Não é possível... você engordou, é isso? Porque olha, mesmo se for isso, não tem problema, a mamãe tá acima do peso, mas eu arrumei um boy tão lindo, jovem, descolado, um amor, estou pensando até em morar junto com ele!”

N-Ã-O É P-O-S-S-Í-V-E-L!
Eu parei, respirei, reproduzi tudo que ela tinha dito na minha cabeça de novo e lá fui eu tentar entender e ver se eu não tinha viajado: “Como é que é, mãe?”

“É Helena, você tá devagar, hein? Mamãe tá namorando, ele é um garotão, meu amor, 31 aninhos, surfa, malha, é empresário, arrumei um príncipe.”
PUTA QUE PARIL!

“31 anos??????????? Você pirou, mãe?”
“Não, meu amorzinho, eu só estou fazendo o que você não anda fazendo, pelo visto, né? Me divertindo, beijando na boca e claro, fazendo muito...” Lógico e óbvio que eu não queria escutar o resto e a interrompi.

“Tá bom, tá bom, já entendi, não precisa continuar. Você me ligou pra me contar que está namorando com um cara 30 anos mais novo e jogar na minha cara que eu estou encalhada, é isso?”

“É, filhota... precisa arrumar um boy pra sairmos juntos!”

“Sairmos juntos?”
“Ainda não te contei, mas eu vou com o Ricardinho aí te visitar! Mamãe chega em breve filhota, arruma a casa!”

Ricardinho? Me visitar? Namorando? É, deve ser o fim dos tempos pra mim!
...

Foi com essa linda novidade e com esse pensamento que fui dormir. E hoje acordei desse lindo sonho. Eu nunca te desejei tanto na vida, Dr. Rodrigo Dualibe Castro!
Agora vou afogar minhas tristezas num bolo de chocolate com um cappuccino, porque definitivamente é o que me resta.

Um beijo depressivo.

O diário de Helena - Página 2

Hahahahaha. Eu não encontrei uma forma melhor de começar a escrever que não fosse rindo. Porque, numa boa, está pra nascer uma mulher tão sortuda quanto eu.

Eu sou advogada. Pelo menos eu pretendi ser um dia. Quero dizer... eu sou, mesmo você se perguntando “como assim essa mulher é advogada?”, ah, não estou nem aí. O fato é que o meu chefe fez uma reunião hoje pra discutirmos sobre uns processos que nosso escritório está cuidando. Essa reunião levou três infindáveis horas. Ainda ouvi de um imbecil que não sei fazer um relatório perfeito. Júlio, meu querido, eu queria muito mandar você pra puta que o paril, porque pra pensar em colocar você no mundo, sua mãe só podia ser uma... enfim.

Saí da reunião pior que o bagaço da laranja espremida. Fui ao cinema. Pensei que comendo uma pipoca grande, tomando uma Coca com bastante gelo e depois adoçando a vida com M&M’s eu me sentiria melhor. O filme? Comédia romântica. Já que a vida tá uma piada, vamos assistir aquele filme que nos dá a história completa. A mocinha gosta do mocinho engraçado, eles ficam juntos, algo acontece, eles se separam e no fim do filme eles voltam a ficar juntos... nada melhor que isso, casais perfeitos, filme perfeito!

Lá fui eu. Sentei na última fileira. Na sala só tinha eu e mais 4 pessoas. Era a última sessão do dia, 23:15. Os trailers começaram. Eu devorei a pipoca e antes do filme ter 15 minutos de duração, ela já tinha acabado. Parti para os M&M’s. Uma coisa terrível aconteceu... quando abri o saquinho, desastrosamente e com lágrimas de muito sofrimento vi metade dos meus chocolatinhos voarem. Não sou tão desastrada assim, não sei o que aconteceu... comi o que me restava. Do meio para o fim do filme comecei a escutar um barulho estranho que vinha da cabine de onde o projetavam. Sou muito curiosa. Levantei e subi em cima da cadeira, com meu salto alto e ainda fazendo esforço para conseguir ver a parte de dentro da cabine. Me dependurei no encosto da cadeira e vi uma cena incrível. Um garoto e uma garota, namorada, sei lá, num amasso daqueles proibidos para menores de 21 anos. O casal me viu. Sabem onde eu fui parar depois?

Bom, boa noite. Acabei de chegar em casa desse dia, digamos que surreal. Hahahahahaha. Não podia terminar de escrever de um jeito que não fosse esse, rindo. Definitivamente uma ducha gostosa me espera. (Júlio, se um dia você ler isso, quero que saiba que... que... quero que você continue indo pra puta que o paril!). Até mais.

O diário de Helena - Página 1


“Eu não vou negar que sou louco por você, estou maluco pra te ver, eu não vou negar...”, parafraseando Zezé Di Camargo & Luciano a uma hora dessas da madrugada.
Eu não nego mesmo. Assim como não posso mentir que estou na maior das maiores fases bregas da minha vida. Malacabada, de maquiagem borrada e meia calça rasgada. Quem é que liga pra isso? Quem é que liga de verdade pra mim? Só o porteiro pra me avisar que o encanador vai subir, ou que o motoboy da pizzaria chegou.

Eu que achei que no auge dos meus 32 anos estaria arrasando num lindo apartamento, com aquele carinha maravilhoso, bonito e bom de cama. Além de engraçado e sutilmente sarcástico. Não é um príncipe encantado, vai. Eu não queria muito. Sim, queria, passado. Não quero mais. Cansei dessa busca incansável por uma vida perfeita, por construir uma família daquelas de comercial de margarina, tão falsa quanto meus peitos de silicone. Sim, até isso eu fiz pra ver se o tal do cara aparecia. Bem que eu queria que fosse meu cirurgião plástico. Que homem másculo, viril, superinteressante e irresistível. Gay. Que se dane. Somos capazes de viver sós, com exceção de gêmeos, tri, quadri e assim geminianamente por diante, nascemos sós, não é?

Eu acabei de derrubar uma lágrima. Eu me sinto a Bridget Jones num remake fodido. Porra, 34 anos, em casa sozinha numa noite de sexta-feira, tomando uma cerveja e escrevendo num blog... eu passei do estágio da decadência. Mas tá tudo bem, acreditem. Pior que isso é deixar a lista de reprodução de música automática do computador rolar e ouvir Zezé Di Camargo, Júlio Iglesias, Roberto Carlos, Ritchie, Maysa, entre outros que não preciso citar.

Você deve estar se perguntando por que eu não procuro uma terapia. Se não está, eu falo sobre isso numa boa. Eu sei que uma hora, se já não aconteceu, você me acharia louca. Mas eu sou normal. Bom, a terapia já foi um sonho de consumo pra mim. Me apaixonei pelo meu psicólogo na sexta sessão. Eu não me apaixono fácil não, é que ele era demasiadamente inteligente. Homens inteligentes além de sexys, me conquistam assim como um par de ingressos para uma partida de vôlei. Não que eu seja esportista e tudo o mais, é que adoro esse jogo.

Eis que dou meu último gole. A cerveja já estava quente, assim como essa madrugada. Não aguento mais o brilho dessa a tela. Minha vista cansou. Vou tirar a roupa e dormir como vim ao mundo. Fechando o laptop. Volto amanhã. (Pra quem será que eu falei isso? Ninguém quer saber da sua vida. Que coisa, Helena!)... zZzz.