domingo, 25 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 8

Passei o feriado e o fim de semana em casa, comendo sopa fria, tomando sorvete e milkshake. Até achei que fosse emagrecer, mas mantive meu peso, que não vou revelar, claro. Além disso, analisei alguns processos. Enquanto meus colegas de trabalho viajaram, foram pra noite, eu fiquei em casa, com menos um dente pensando no meu médico e possivelmente errando na análise de todos os processos. As coisas que aquele atendente babaca me falou não saíram da minha cabeça. 

Eu aproveitei pra ver uns filmes também. Mas cara, eu fiz uma coisa que acho que mudou minha vida. Comecei a ler ‘50 tons de cinza’. Christian Grey tá na disputa com meu doutor. Fantástico, não é só porque é rico, empresário e maravilhoso, mas é porque literalmente ele é um personagem que não merecia a Anastasia. Grey, prazer, Helena Maia Dualibe. Vem me buscar e me leva pro seu mundo, seu sedutor super sinistro de bom!

Bem, voltando pra minha realidade, esperei meu telefone tocar torcendo por ouvir um “Oi, Helena, é o Rodrigo, como vai?”.

Mas até agora nada. Quero dizer, nada de Rodrigo, porque minha mãe voltou a me ligar pra me contar sobre o tal do boy dela (a velhice tá braba, achava que não tinha me contado, então tive que lembrá-la da nossa conversa altamente estranha ao telefone naquele péssimo dia), e a Amandinha depois de alguns dias me ligou. Adivinhem pra quê? Pra falar sobre o Leo, vulgo DJ.

Vamos então ao que interessa.

Eu estava linda e gostosa de pijama no meu sofá, toda esparramada e confortável vendo “My week with Marilyn”, quando meu telefone toca. Por mais que eu o estivesse ouvindo, eu não o encontrava de jeito nenhum. Nessa de esperar meu Rodrigo ligar, o levava pra todo o canto. E o último que o deixei foi no vaso das minhas orquídeas lá na varanda. Encontrei ele e atendi com o coração no ritmo de uma escola de samba.

- Alô? – eu disse esperançosa (e com voz sexy)

- Sua putinha, se eu não te ligo você não me liga, né? Por que demorou pra me atender? Tá com alguém aí? Tô atrapalhando? – Amandinha me interrogou.

- Gata, olha só, você tinha ficado de me ligar, não? Até então não sabia que tinha voltado. Não, infelizmente tô sozinha aqui. – Falei decepcionada.

- Tá com tempo?

- Tô, amiga. Fala aí, como foi a viagem?

- Ah, amiga, foi mais ou menos, eu senti o Leo meio esquisito, sei lá, parecia estar com o pensamento longe ou pensando em me dar um pé na bunda... – Comentou triste.

Nesse momento eu engoli a seco, dei um tapa proposital na testa e me lembrei que ainda não tinha contado como tinha sido meu fim de noite no baile funk e nem que eu já conhecia o Leo e tive um caso com ele.

- Então, antes de você continuar eu preciso muito te contar um negócio. – Falei apreensiva pra cacete.

- Siiiiiiiiim! Me conta como foi lá no baile, curtiu? Pena que você sumiu e não deu pra eu te apresentar o ... – A interrompi.

- Eu já conheço o seu DJ.

- Conhece? Como conhece? – Ela me indagou surpresa.

- Há um tempo atrás nós tivemos um lance, como diz me por aí, um lance sem romance.

- Peraí, você e o Leo? Mas você nem viu ele, eu nem apresentei vocês... Como assim?

- É, Amandinha, eu fui atrás de você lá e quando vi você com ele, fugi que nem o capeta foge da cruz.

- Por que?

- Porque ele me infernizou um pouquinho, se apaixonou por mim, eu não queria nada, ficou correndo atrás, enfim... Aquela história toda que acontece com mulher apaixonada, só que, no meu caso, aconteceu uma inversão.

- Entendi... Mas se já faz tempo, por que não foi lá só dar oi? Será que ele ainda não te esqueceu? Não é possível, amiga.

Eu confesso que fiquei muito surpresa com a reação dela. Não esperava que ela reagisse assim, no mínimo esperaria algo do tipo “porra, sua puta, nem me contou antes essa história que aconteceu contigo”. Mas tudo bem, melhor assim, né?

- Pois é, Amandinha, ele desistiu de mim na época, mas disse que se me visse algum dia iria tentar algo, por isso fugi. Pra não ter um chiclete grudado no meu silicone e lógico, pra em consideração a você.

Amandinha ficou um pouco em silêncio e minha espinha chegou a se arrepiar. Ela podia estar querendo me matar, ou não, sei lá.

- Quer saber? Que se dane esse babaca. – Ela disse revoltada.

Eu não entendi a atitude dela, achei que tinha feito merda.

- Oi? Até então você tava meio triste porque a viagem não foi boa, eu te conto um negócio desses, você se cala e manda essa... Wtf?- Eu disse sem entender.

- Tu deve saber, né, amiga. Ele nem é tão bom de cama, o beijo é razoável, não vai me dar futuro e ainda quer dividir todas as contas.

- Pior que é mesmo. Tu merece um cara mais interessante, em todos os sentidos. O Leo é lindo sim, mas é exemplo vivo de que beleza é só pra ser apreciada mesmo, porque na hora do vamos ver...

- Menina, você acredita que ele brochou?

- Acredito, amiga. Ele brochou comigo uma vez também. Bem no nível ‘a pipa do vovô não sobe mais’. Realmente, sai dessa, pula fora, não dá não. – Eu contei.

- Helena do céu, que babado. Então o cara é pró na arte de fazer, quero dizer, de não fazer nada? Menina... É, vou dar um pé na bunda merecido. Até porque tamanho é documento.

- Amandinha, eu prefiro nem entrar nesses méritos 
 Ri compulsivamente.

Contei pra ela da minha aventura com o Catra, ela ficou em êxtase e "P" da vida por não ter visto. Combinamos um barzinho pra semana que vem.
Mas eu ainda estava ansiosa. E agora, não só ansiosa como preocupada. A Amandinha desligou o telefone falando que ia terminar com o Leo. Espero que ele não arrume um jeito de me achar.

De brocha e deprimente já basta essa vida chata de esperar por um telefonema, né?
Voltei a ver meu filme, dessa vez com o telefone ao lado. Dormi e acordei com a boca aberta e com baba. Não sou assim, juro. Nem o filme tava ruim, pelo contrário, eu tava amando. Mas sei lá porque eu dormi.

Acordei com fome, pra variar, e lá fui eu pra cozinha preparar meu super cardápio ultra máster variado e delicioso.

Que vida e que fase!

Semana que vem tem barzinho, espero ter uma aventura pra contar. Se algo acontecer antes, volto sem nem pensar!

Será que meu Doutor liga? Será que eu ligo? Alguém me dá uma dica?

Até mais.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 7


Tirar siso é tão ruim. O lado bom é que não tô com a boca inchada, mas não poder comer é um suplício.

Fiquei de contar o encontro com o meu doutor, né? Então lá vai.

Olhei pra ele e não acreditei muito bem que era ele mesmo.
Eu tinha 30 reais na mão pra pegar o remédio e fiquei como uma estátua enquanto meu cérebro absorvia a imagem dele, e enquanto eu me certificava de que não era um sonho.
Até porque nos meus sonhos mais quentes, nunca imaginei encontra-lo justo na farmácia.
Na minha casa, na casa dele, num restaurante, num bar, em qualquer outro lugar. Mas eis que ele estava ali, lindo como sempre (e ao extremo) na minha frente.

- Helena, que coincidência te encontrar por aqui.
Eu permaneci calada, com cara de menina apaixonada que acabou de perder a virgindade olhando pro cara que ama.

- Tá tudo bem? Você tá precisando de alguma coisa?
Meus pensamentos diziam: sim, tô sim, da sua boca na minha, do seu corpo no meu, desse homem lindo e maravilhoso acordando do meu lado todos os dias...
Ele viu o anti-inflamatório na minha mão e perguntou o que houve.
Nessa altura eu já tinha me certificado que era ele mesmo e que não era sonho.
Então me atrevi a falar com aquela voz de traveco cheia de algodão na boca.

- Oi, Rodrigo. Nossa, olha intimidade, quero dizer, oi, doutor. Tô bem, não nos meus melhores dias, acabei de voltar do dentista, tirei um siso.
Acho que pra falar essa frase eu demorei  5 minutos cronometrados. Tava fazendo figa em pensamento pra ele ter entendido o que eu disse, o algodão me atrapalhava muito a falar e me fazia salivar loucamente.

- Poxa, que chato, Helena. Nem vai aproveitar o feriado, né?
Mais uma vez meu pensamento me cutucava: vou, com você, lógico, só me falar pra onde vamos. Acho que queijos e vinhos cairia bem, um fondue, sei lá.

- Pois é, infelizmente. Mas tinha que tirar logo e aproveitei pra ficar em casa quietinha esse feriado, até pra não faltar o trabalho.
Mais 5 minutos pra falar e voz de bêbada.
O atendente me pediu licença e pegou o dinheiro que tava comigo e prontamente me deu o troco.

- Ah, é, aproveita pra descansar mesmo e cuida dessa boca direitinho. Sabe que só pode tomar gelado, né?
Eu não acreditava que tava tendo um diálogo desses com ele. Eu querendo falar de amor, namoro, casamento, filhos, e ele insistindo no meu siso, mas tudo bem.

- Pois, é...
Pois é??? Isso é resposta que se preze? Pois é, foi a que eu dei.
Mas pelo menos a minha frase seguinte me rendeu boas suposições.

- Só espero não ficar com o rosto inchado, né, já basta ficar em casa de molho no feriado...
Ele me olhou e abriu um sorriso, um sorriso não, o sorriso mais lindo do universo.

- Coloca gelo, toma o remédio direitinho e toma bastante gelado. Pode ter certeza que não vai inchar. Mesmo se inchar, você continuaria linda. A propósito, você tá muito bonita.
OMG! Sim, ele disse que eu tava muito bonita!

- Ah, doutor, agradeço o elogio, mas tô longe de estar bonita, sem dente e cheia de algodão na boca.
Ele me abriu mais um sorriso e encostou a mão no meu braço
- Que é isso, Helena, você é linda.

Pensamento podre: claro, você colocou um baita dum peitão em mim, se eu não tivesse, no mínimo gostosa, acho que seu trabalho não teria sido tão bom.
Eu tentei sorrir e agradeci um pouco sem jeito. Sim, acreditem, eu fiquei sem graça.
Ele colocou a mão no bolso e pegou a carteira.

- Olha Helena, esse aqui é meu cartão novo. Troquei de telefone lá no consultório, tem meu celular também. Se precisar de alguma coisa me liga. Se não precisar também pode ligar, quando melhorar podemos nos ver de novo.
OMG, OMG, OMG, OMG!
Engoli a seco, pensei estar com problema de audição, visão, tudo junto. Mas peguei o cartão dele e guardei na minha bolsa.

- Poxa, obrigada, doutor, eu...
Ele me interrompeu.

- Rodrigo, me chama de Rodrigo. Doutor só no consultório.
Fiquei um pouco sem graça mais uma vez e me desculpei pela minha formalidade.

- Tá tudo bem. Bom, tenho que ir. Ainda vou atender hoje. Foi ótimo te rever.

- Foi ótimo te ver também, Rodrigo.

- Bom, eu já vou indo, mas antes...
Ele pegou o Iphone dele do bolso, meu coração disparou.

- Você pode me dar o seu telefone?
OMG, OMG, OMG OMG, OMG, OMG!
Pensamentos podres - a volta: eu dou é o que você quiser, seu lindo, gostoso.

- Claro.
Dei o número, ele anotou.

- Bom, tenho a opção de te ligar também. Agora vou mesmo.
Ele me deu um beijo ma-ra-vi-lho-so na bochecha e foi embora.
Eu fiquei ali plantada igual a um 2 de paus delirando sozinha, quando o atendente me fala:

- Você podia ser mais discreta.
Eu olhei pra ele sem entender e o questionei.

- Qualquer um vê que tá escrito, melhor, tatuado o nome desse cara aí na tua testa. Não seja tão fácil.
Ora, ora, quem esse babaca pensa que é pra falar assim comigo.

- Jura que dá pra ver isso na minha testa? Será que ele percebeu?

- Bom, se ele percebeu eu não sei... Ah, deve ter percebido sim. Mas pelo menos uma noite contigo vai querer, pegou seu telefone.

- Ô garoto, vai trabalhar, vai. E me respeita, sou advogada, sabia? Posso te acusar por calúnia.

Virei as costas e fui embora.
Aqui estou eu, sem saber de absolutamente nada. Pensando no elogio que recebi do meu doutor, mas ao mesmo tempo pensando no que aquele atrevido daquele atendente me disse.

E agora?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 6


Vou descrever a minha real situação no momento: cara de empada amassada, sem uma parte do juízo, com vergonha, mas feliz de certo modo. Bem, até certo ponto.

Tô ouvindo Roxette no máximo, meus vizinhos daqui a pouco vão chamar a polícia, o síndico, ou bater aqui pra tentar quebrar meu som... Eu não tô nem aí!

“Listen to your heaaart when he's calling for you, listen to your heaaaart there's nothing else you can do…”, por que esse comportamento? Porque eu me chamo Helena Vanilha, tenho 32 anos, sou uma advogada bem sucedida, tenho meu apartamento, meu carrinho lá na garagem, mas meu doutor que é bom, nada.

Essa semana senti uma dor na gengiva, na altura do siso inferior, do lado direito da boca. Liguei pro meu dentista e ele logo me pediu uma radiografia. Levei pra ele e descobrimos que eu teria que tirar o dente. Mas não pude tirar no dia em que estive lá, exatamente há 3 dias. No dia seguinte eu precisava estar no fórum sem falta, então adiei pra hoje a extração.

Quando cheguei lá, soube que meu dentista não estava, teve um problema e nem chegou a ir pro consultório. Tinha duas opções: ou eu esperava pra tirar com ele num outro dia ou eu tirava com outra pessoa e aproveitava o feriado pra relaxar em casa, sem me preocupar em faltar 2 dias de trabalho. Pensei um pouco e disse pra secretária que eu tiraria naquele dia com qualquer outro cirurgião.

Ela pediu pra eu esperar um momento e rapidamente veio até mim e me levou para uma sala.
A visão do paraíso me esperava encostado na porta. Olhos azuis altamente penetrantes, cabelos loiros, curtinhos, lisos... provavelmente cheirosos e carentes por um afago. Olhei logo para o jaleco e vi seu nome: Daniel. Esse Daniel não falou nada e já me levou pro céu em segundos. Dr. Dualibe, se minha paixão por você não fosse patológica, esse Daniel, mesmo com uma aliança de noivado no dedo, certamente seria meu.

Ele me cumprimentou, olhou minha boca e perguntou se eu estava pronta pra darmos início ao processo de remoção do siso. Eu disse que sim e lá fomos nós. Primeiro a anestesia, foi supertranquilo. Depois ele cortou minha gengiva, mais tranquilo ainda. Não sentia nada e ainda tinha aqueles olhos azuis todos voltados pra minha boca. Que delicinha, meu Deus!

Mas nem deu tempo pra sonhar. Ele começou a cavucar meu dente, como se o siso fosse uma espécie de baú repleto de tesouro enfiado na terra, e ele um pirata louco e obcecado por roubar aquela preciosidade. Fechei os olhos com força porque tava incomodando e ouvi aquela voz máscula extremamente gostosa me dizer: relaxa, relaxa, relaxa, já estou terminado, fica tranquila.

Tem como não dar ouvidos pra uma gostosura dessas? Eu respirei, relaxei e continuei namorando os olhos dele. Ele tirou o siso, me mostrou e pegou a agulha e a linha pra dar o ponto. Terminou, colocou dois chumaços de algodão na minha boca e me disse que ia me receitar um anti-inflamatório. Enquanto ele escrevia eu tentava cuspir aquela saliva de sangue, mas eu fiquei toda atrapalhada. O algodão não deixava eu cuspir direito, mas tentei a todo custo antes que ele virasse. Mas não adiantou, quando eu consegui cuspir direito ele virou e me pegou naquela cena bem linda, com cuspe dependurado na boca caindo naquela mini pia que tem ao lado da cadeira onde a gente deita.

Ele pareceu nem ligar, mas eu me xinguei internamente de tudo quanto é nome.
Me deu o papel com o nome do remédio e me pediu pra tomar bastante gelado e higienizar com cuidado o local do ponto.
Mesmo com aquele chumaço de algodão na boca me atrevi a soltar: você tá aqui sempre? – com uma voz de traveco na dúvida se ainda é homem ou é traveco mesmo.

Ele respondeu que só vai quando é preciso, mas que só faz cirurgias, que a parte clínica ele não faz. Voltei a falar, com a voz travecuda: ai, que azar que eu dei!

Porra, como assim eu falei isso? Tô na seca do nordeste mesmo, não tem jeito, minha boca sai até falando mesmo não podendo.

Saí linda do consultório e resolvi passar logo na farmácia pra comprar meu remédio.
Quando eu cheguei lá, vi um cara de costas, que só de costas parecia ser o Mister mundo mais bonito de todos os tempos. Fui chegando perto, me aproximando devagar, em passos gatunos, leves e maliciosos (sim, maliciosos, que bunda bonita esse protótipo de Mister tem...), mas logo fui interrompida pelo atendente da farmácia. Dei a receita do remédio e o Mister mundo se aproximou de onde eu tava, há uns 6 passos de mim, ainda de costas.

E tava vestido tão bonito, elegante, sexy, com uma calça jeans escura, uma camisa social com risca de giz azul clara, manga dobrada...
O atendente me chamou: aqui senhora, 25 reais a caixa.

Abri a bolsa, peguei a carteira. De repente escutei: Helena!
E a voz vinha da direção do Mister(ioso). Quando olhei pro lado dele...
Era o meu Doutor, ele mesmo, o meu Rodrigo Dualibe.

Como foi esse encontro?
Conto no próximo post. Tá na hora de eu fazer meu almoço: milkshake.

Uma dica: ouçam Roxette, é tão bom!

sábado, 3 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 5

“Sabe esses dias que tu acorda de ressaca, muito louco, doidão...”, já dizia o Catra. 

Acho que eu nunca fiquei com uma ressaca tão sinistra como essa. Não senti nada ontem, mas hoje... Minha cabeça dói num nível master. A cada vez que pisco os olhos parece que explode uma bomba na minha cabeça. Meu fígado é muito potente, não passei mal, mas em compensação, hoje estou com uma gastura, um gosto ruim na boca e com azia. Tudo isso porque eu misturei cerveja, vodka, energético e uma bebida louca lá que me deram que eu não faço ideia do que era, mas até que era boa.

Devo explicações aqui, eu sei. É sobre elas que vim falar e terminar de contar o fim da minha incrível noite, que pode-se ler como fim da minha incrível aventura.

O DJ... Quem era o DJ?

Há mais ou menos um ano eu estava numa festa de casamento de uma amiga. Cheia de homens lindos e partidos interessantíssimos pra uma advogada encalhada. Mas fui me interessar por quem? Logo pelo DJ. Ele tava lá no espacinho dele tocando e eu olhando pra ele e dançando pra que me visse. Ele me viu, no fim da festa ficamos juntos, foi bom, gostoso, ele pegou meu telefone e eu pensei: Ah, Deejayzinho, deve pegar todas, toca em festas sempre, nunca iria me ligar...

Não é que ele me ligou no dia seguinte! E no outro, no outro, no outro... Foi esse o problema. Ele é uma delicinha, mas é um grude infernal. O pior foi que da última vez que nos vimos ele disse estar apaixonado por mim. Eu tive que trocar o número do meu telefone e passar uns tempos na casa da Amandinha, porque até onde eu morava ele descobriu e me cercava.

Até que ele descobriu meu e-mail e enchia minha caixa de entrada com e-mails apaixonados, grudentos e bregas. Eu lia todos, ria com alguns, morria de rir com outros, mas um me preocupou. Nesse ele disse que iria sumir, parar de me embarreirar e continuar a vida dele, mas que se um dia me encontrasse por um acaso, por obra do destino, ele não iria perder a oportunidade e iria me conquistar a qualquer custo, independente da circunstância.

NÃO! Ele não podia me ver naquele baile funk, a Amandinha não podia me apresentar ele, muito menos os amigos dele, que cá entre nós, devem ser tão grudentos quanto ele. Pobre Amandinha, mal sabe onde está amarrando o seu bode.

Então aconteceu o que eu disse, fugi dele como o diabo foge da cruz. Nessa fuga esbarrei com uma garota que estava gritando loucamente pro Catra que queria ser uma das mulheres dele. Não sei porque, mas eu achei aquilo genial e fiz amizade com ela. Cara, pensa bem, como é que uma pessoa pode querer o Catra? E tem mais, não é só o fato de querer ele, mas de dividir ele também. Acho que a coragem e a loucura dela me chamaram atenção, me distraiu e comecei a gritar com ela. Não gritei que queria o Catra, gritei que ela queria ele. Vejam bem!

Aos trancos e barrancos, naquela multidão de tigrões e tchutchucas fomos indo para perto do palco e a garota ensandecida gritando sem parar. Ele terminou uma música, olhou pra nós e nos chamou pra subir no palco. Então eu disse pra ela ir lá pegar o rei do funk. A vaquinha não me arrastou junto?

“Amiga, amiga, querida, bonitinha, oooow, funkeira, mulher do Catra, maluca, doida, besta, idiota... não, não, não me leva pro palco não, me solta, espera, por favor, eu não posso ir...”, nada do que eu falei pra ela adiantou. Mas não sei o que me deu, porque ao mesmo tempo que eu tava com medo de ir pra aquele palco e o DJ me descobrir, eu tava querendo muito estar do lado desse tal de Mr. Catra.

Eu fui, né? A garota agarrou no pescoço do cara e falou que era louca por ele. Ele então disse que pra ela ser uma das mulheres dele tinha que passar por uns testes e que o primeiro seria o da bundinha durinha. Pra isso ela vai ter que rebolar e dançar um funk cantado por ele e o público julgar o desempenho dela.

Meu pâncreas torceu com a possibilidade de fazer aquilo ali. Mas eu liguei o foda-se e fiz também, mesmo ele não pedindo pra mim. Aquela platéia de tigrões e tchutchucas julgaram a dança da minha colega como uma dança muito boa. Ovacionaram a garota. Mas gritaram pra mim tb: ô branquela, tu não é da raça, mas tu dança gostoso e tem uma bunda bonita! Ouvi isso de um 'nem' que tava perto da gente.

Era tudo que eu precisava saber: danço gostoso e tenho uma bunda bonita. Dr. Dualibe, por que você não vê isso, meu bem?

A minha colega terminou no camarim do Catra, não sei se ela conseguiu alguma coisa com ele. Eu desci do palco logo depois, uns tigrões vieram com essa bebida louca que eu disse que bebi, me deram, a gente dançou muito, nessa de fazer chão, chão, chão eu rasguei a minha calcinha não sei como, mas fiquei muito feliz.  
Primeiro, porque eu descobri que danço gostoso e tenho a bunda bonita, segundo, porque eu dividi o palco com o Catra e terceiro, porque acho que o DJ chiclete não me viu. 

Voltei pra casa de táxi, não sei como nem quem me colocou nele. Amandinha me ligou ontem dizendo que ia viajar com o DJ e voltaria amanhã... Só então vamos conversar sobre minha noite louca e contar pra ela sobre o mistério e a armadilha do DJ.

Apesar de tudo eu ainda te amo meu Dr. lindo.

Acho que agora cai bem um engov, um sal de frutas, sonrisal, Coca-cola...

Talvez, muito talvez “vodka ou água de côco, pra mim tanto faz...”

Se alguém encontrar meu Dr., avise a ele que eu sou capaz de casar com ele tipo agora.
Beijo pra vocês.