segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 7


Tirar siso é tão ruim. O lado bom é que não tô com a boca inchada, mas não poder comer é um suplício.

Fiquei de contar o encontro com o meu doutor, né? Então lá vai.

Olhei pra ele e não acreditei muito bem que era ele mesmo.
Eu tinha 30 reais na mão pra pegar o remédio e fiquei como uma estátua enquanto meu cérebro absorvia a imagem dele, e enquanto eu me certificava de que não era um sonho.
Até porque nos meus sonhos mais quentes, nunca imaginei encontra-lo justo na farmácia.
Na minha casa, na casa dele, num restaurante, num bar, em qualquer outro lugar. Mas eis que ele estava ali, lindo como sempre (e ao extremo) na minha frente.

- Helena, que coincidência te encontrar por aqui.
Eu permaneci calada, com cara de menina apaixonada que acabou de perder a virgindade olhando pro cara que ama.

- Tá tudo bem? Você tá precisando de alguma coisa?
Meus pensamentos diziam: sim, tô sim, da sua boca na minha, do seu corpo no meu, desse homem lindo e maravilhoso acordando do meu lado todos os dias...
Ele viu o anti-inflamatório na minha mão e perguntou o que houve.
Nessa altura eu já tinha me certificado que era ele mesmo e que não era sonho.
Então me atrevi a falar com aquela voz de traveco cheia de algodão na boca.

- Oi, Rodrigo. Nossa, olha intimidade, quero dizer, oi, doutor. Tô bem, não nos meus melhores dias, acabei de voltar do dentista, tirei um siso.
Acho que pra falar essa frase eu demorei  5 minutos cronometrados. Tava fazendo figa em pensamento pra ele ter entendido o que eu disse, o algodão me atrapalhava muito a falar e me fazia salivar loucamente.

- Poxa, que chato, Helena. Nem vai aproveitar o feriado, né?
Mais uma vez meu pensamento me cutucava: vou, com você, lógico, só me falar pra onde vamos. Acho que queijos e vinhos cairia bem, um fondue, sei lá.

- Pois é, infelizmente. Mas tinha que tirar logo e aproveitei pra ficar em casa quietinha esse feriado, até pra não faltar o trabalho.
Mais 5 minutos pra falar e voz de bêbada.
O atendente me pediu licença e pegou o dinheiro que tava comigo e prontamente me deu o troco.

- Ah, é, aproveita pra descansar mesmo e cuida dessa boca direitinho. Sabe que só pode tomar gelado, né?
Eu não acreditava que tava tendo um diálogo desses com ele. Eu querendo falar de amor, namoro, casamento, filhos, e ele insistindo no meu siso, mas tudo bem.

- Pois, é...
Pois é??? Isso é resposta que se preze? Pois é, foi a que eu dei.
Mas pelo menos a minha frase seguinte me rendeu boas suposições.

- Só espero não ficar com o rosto inchado, né, já basta ficar em casa de molho no feriado...
Ele me olhou e abriu um sorriso, um sorriso não, o sorriso mais lindo do universo.

- Coloca gelo, toma o remédio direitinho e toma bastante gelado. Pode ter certeza que não vai inchar. Mesmo se inchar, você continuaria linda. A propósito, você tá muito bonita.
OMG! Sim, ele disse que eu tava muito bonita!

- Ah, doutor, agradeço o elogio, mas tô longe de estar bonita, sem dente e cheia de algodão na boca.
Ele me abriu mais um sorriso e encostou a mão no meu braço
- Que é isso, Helena, você é linda.

Pensamento podre: claro, você colocou um baita dum peitão em mim, se eu não tivesse, no mínimo gostosa, acho que seu trabalho não teria sido tão bom.
Eu tentei sorrir e agradeci um pouco sem jeito. Sim, acreditem, eu fiquei sem graça.
Ele colocou a mão no bolso e pegou a carteira.

- Olha Helena, esse aqui é meu cartão novo. Troquei de telefone lá no consultório, tem meu celular também. Se precisar de alguma coisa me liga. Se não precisar também pode ligar, quando melhorar podemos nos ver de novo.
OMG, OMG, OMG, OMG!
Engoli a seco, pensei estar com problema de audição, visão, tudo junto. Mas peguei o cartão dele e guardei na minha bolsa.

- Poxa, obrigada, doutor, eu...
Ele me interrompeu.

- Rodrigo, me chama de Rodrigo. Doutor só no consultório.
Fiquei um pouco sem graça mais uma vez e me desculpei pela minha formalidade.

- Tá tudo bem. Bom, tenho que ir. Ainda vou atender hoje. Foi ótimo te rever.

- Foi ótimo te ver também, Rodrigo.

- Bom, eu já vou indo, mas antes...
Ele pegou o Iphone dele do bolso, meu coração disparou.

- Você pode me dar o seu telefone?
OMG, OMG, OMG OMG, OMG, OMG!
Pensamentos podres - a volta: eu dou é o que você quiser, seu lindo, gostoso.

- Claro.
Dei o número, ele anotou.

- Bom, tenho a opção de te ligar também. Agora vou mesmo.
Ele me deu um beijo ma-ra-vi-lho-so na bochecha e foi embora.
Eu fiquei ali plantada igual a um 2 de paus delirando sozinha, quando o atendente me fala:

- Você podia ser mais discreta.
Eu olhei pra ele sem entender e o questionei.

- Qualquer um vê que tá escrito, melhor, tatuado o nome desse cara aí na tua testa. Não seja tão fácil.
Ora, ora, quem esse babaca pensa que é pra falar assim comigo.

- Jura que dá pra ver isso na minha testa? Será que ele percebeu?

- Bom, se ele percebeu eu não sei... Ah, deve ter percebido sim. Mas pelo menos uma noite contigo vai querer, pegou seu telefone.

- Ô garoto, vai trabalhar, vai. E me respeita, sou advogada, sabia? Posso te acusar por calúnia.

Virei as costas e fui embora.
Aqui estou eu, sem saber de absolutamente nada. Pensando no elogio que recebi do meu doutor, mas ao mesmo tempo pensando no que aquele atrevido daquele atendente me disse.

E agora?

3 comentários:

  1. Falando pra Helena pq a @PatyEm não quer transmitir meu recado:
    Olha Helena, aquela "uma noite contigo " que o atendente falou, não é nada, não é nada....mas pode ser alguma coisa. Ligue.

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  2. A-do-rei!!! Recebi seu convite para conhecer o blog pelo Twitter. Já li as 7 e estou ansiosa pela continuação! Ganhou uma leitora assídua por aqui (e curiosa). Bjs! @Ela_eh_carioca_ :)

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  3. Aimeodeos! O Doutor apareceu! hahaha... minha queda por um jaleco não permite esse tipo de coisa. Hiperventilando aqui. hahah =D

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