quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O diário de Helena - Página 10


Depois de reviver meu momento universitária, que nem tem tanto tempo assim (só tem 9 anos), com aquele delicinha do João, só podia dar m...

Lembrei da minha adolescência e de um monte de coisas até meus 24 anos. Até os 24 porque considero que fiquei madura aos 25, apenas considero, se você quiser desconsiderar eu entendo. Juro!

Abri meu armário e peguei uma caixa grande que estava guardada na parte de cima. Não sei porque tenho essa mania de guardar coisas. Guardo mágoas, amores, doutores...

Enfim, peguei a caixa, sentei na minha linda e confortável cama, que é de onde estou digitando, inclusive.

Abri a caixa e fui reviver um pouco do meu passado.

Lá dentro tinha: um caderno daqueles cheios de pergunta que a gente dava pros amigos responderem: Cor favorita? Está namorando? Apaixonado? Por quem? Deixe um recado para a dona do caderno... – Tinha um álbum do Ricky Martin, uma foto minha com a Xuxa, o ingresso de um show das Spice Girls e outro do Barão Vermelho e uma série de cartinhas que trocava com minhas amigas quando eu era mais nova. Eu era muito retardadinha, escrevia pra todas as minhas amigas, as que eu mais gostava, claro. Tadinhas, elas se sentiam na obrigação de responder e ficávamos trocando infinitas cartinhas bonitinhas. Coisa de gay, né? Nada contra os gays, amo todos de paixão, mesmo! Na verdade eu me acho gay às vezes. Bem que seria uma aventura se... Nada, deixa pra lá, foi um devaneio.

Retomando aqui... Achei uma Minnie de pelúcia, foi do meu primeiro namoradinho, Henrique. Tadinho, judiei tanto dele. Ele foi pra Disney e enchi o saco pra ele trazer um monte de coisas, mas se não trouxesse um casal Mickey e Minnie, pra ele ficar com o Mickey e lembrar de mim e vice e versa, eu ia namorar o Pedro (melhor amigo dele). Sim, eu era geniosa desde os meus 13 anos. Estudei com o Henrique até o ginásio e depois... Pera, calma, eu falei ginásio mesmo? Por favor, abstraiam. Tô me sentindo muito velha revendo essas coisas, deve ser por isso que saiu essa palavra de velho. Enfim, eu e o Henrique ficamos de namorico até meus 14 anos, mas era namorinho bobinho de dar selinho, pegar na mão, andar de mãos dadas. Minha mãe adorava ele. Mas os pais dele não gostavam de mim. Por que será, né? 


Ele chegava em casa roxo porque eu batia nele quando via ele conversando com a menina que eu mais odiava da escola, cortei um pedaço do cabelo dele quando tive um ataque de riso e meu chiclete voou na cabeça dele, aprontava na sala de aula, jogava bolinha de papel no professor, passava cola errada de propósito pra algumas pessoas, colava papel no estilo “me chute” em quem tava sentando na minha frente... E depois eu incriminava o Henrique. Ele gostava de mim mesmo assim. Digo isso porque ele levou duas suspensões por levar a culpa no meu lugar. Na verdade não gostava de mim não, ele era muito idiota mesmo. Mas... Estudamos juntos até o 3º ano do ensino médio. Eu levei minha vida aqui e o Henrique foi estudar nos Estados Unidos. Mora lá desde então. É economista, tem um casal de filhos e uma mulher linda. Quem diria, né? E eu aqui atrás de um doutorzinho que nem disca meu número.

Achei foto da mina formatura no C.A, na 8ª série e no 3ª ano. Impressionante como eu sempre tive a bunda grande, alguma coisa eu tinha que herdar de bonito da minha mãe, porque sou praticamente o meu pai numa versão feminina.

Achei também um livretinho, fininho de poesias e textinhos. Acho que foi a fase mais brega da minha vida. A fase dos amores platônicos no início da universidade. Primeiro foi por um professor de 40 anos, com cara de 30 e corpo de 25, depois foi por um amigo (que era gay) e em seguida pelo atendente da livraria em que eu ia comprar meus livros da faculdade. É, eu não tenho nenhum critério. Escrevia várias coisa pensando nesses amores maluquetes.

Por exemplo: “...e vi seu olhar de longe procurando algo que queria que fosse qualquer parte minha, implorando meus lábios encostados nos seus, decifrando o que meu coração a cada batida dizia...”

Peguei o menos pior, tá?

Guardei minha melhor prova e minha pior da faculdade.

Uma nota 2 em Direito Penal e um 10 com direito a comentário do professor em Direito Internacional Privado.

Entre outras coisas que eu não preciso entrar em detalhes porque serão muito constrangedoras. Não tenho problemas com isso, mas é que pra eu me sentir constrangida é porque é brabo mesmo.

Tive boas lembranças remexendo essas coisas. Dei boas risadas. De certo modo esse universitário entrou na minha vida na hora certa, eu precisava e distrair. Tem um doutor ocupando minha cabeça o tempo inteiro.

Vou trabalhar. Tenho uma daquelas reuniões chatas hoje, com aquele colega de trabalho insuportável também.

Mandem boas energias pra mim e a paciência de vocês também, vou precisar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O diário de Helena - Página 9



Não. O meu doutor não me ligou e nem eu liguei pra ele. Por que eles prometem ligar se nunca ligam depois? Só pra fazer o fofo? Ah, vai dar meia hora de... Cabeçada na parede. 

Enfim, por mais que eu queira esse homem mais que tudo, ele precisa fazer o papel de homem, né? Ligar, apenas isso. Não que eu não tenha atitude o suficiente pra fazer, eu até quero, quero muito. Mas vou bancar a difícil dessa vez. 

Bom, hoje não vim pra falar do Rodrigo. Milagre, não?
Vim contar uma super aventura que tive no bar com a Amandinha. Mentira, super aventura nada, foi só uma experiência diferente, digamos assim. Hahah. 

Fomos a um barzinho aqui perto de casa, bem conhecido até. Um lugar bem aconchegante, dão umas pessoas bonitas, tem música ao vivo. Já fui lá algumas vezes. Poucas, na verdade. A Amandinha terminou com o Leo (DJ) e já tava louca por uma nova boca. 

Chegamos lá e era um show no estilo ‘mistureba’, a banda tinha um repertório vasto, que ia da MPB ao axé. Interessante até, tudo que pediam eles tocavam. Foi bem divertido. 

Pegamos uma mesa perto do palco e logo começamos os trabalhos. De início, caipirinha pra agitar. Mal conversamos, Amandinha tava louca, dançando e cantando, na verdade se insinuando pro vocalista, que por sinal, cantava olhando, quero dizer, comendo a minha amiga. Eu tava me divertindo extremamente vendo aquela situação. Comecei a ficar alegrinha e também entrei no clima da Amandinha. Mas não, não me insinuei pra ninguém da banda, todos muito chinfrins pra mim. 

Nessa de tanto dançar e cantar, já com o barzinho lotado ao extremo, eu não avistava nenhum garçom. A sede me dominava, resolvi ir até o bar pedir uma cerveja. Quando cheguei lá, tinha um carinha pedindo. Olhei pra ele e meu alerta ‘homem maravilha’ já apitou freneticamente. Pedi minha cerveja e ele disse: 

- Não, não pede não. Acabei de pedir essa. Pede um copo no lugar de uma garrafa. 

Achei aquilo o must da maravilha. Pedi um copo, ele me serviu, brindamos e bebemos um gole. 

- Desculpa eu te abordar assim, mas é que eu já tinha te visto por aqui uma vez, hoje tornei a te ver lá na frente dançando, resolvi então te dar um oi, mais que isso, ser gentil. – Ele me disse com um sorriso estampado. 

Continuei bebendo e agradeci a gentileza. 

- Não me lembro de você por aqui, até porque vim poucas vezes e sempre tava muito cheio. Já é cliente da casa? – Eu disse disfarçando meu interesse por aquela boca vermelha, linda e maravilhosa, envolta de uma barba ralinha. 

- Não, não, vim poucas vezes também, talvez um pouco mais que você. Sou amigo do pessoal que tá tocando aqui hoje. Mas me diz o seu nome, nem perguntei, desculpa a minha falha! – Ele disse sorrindo, dando um gole naquela cerveja que parecia estar mais gostosa que as outras. 

- Helena. 

- Sou João. – Ele disse, extremamente charmoso. 

Não precisamos de muito papo não. Já fomos logo ao que interessava. Ele até tinha um papo legal, mas eu queria muito sentir aquela barba roçando no meu rosto, no meu pescoço. Ficamos ali naquele amasso gostoso, quando não sei por que cargas d’água, ao pedirmos mais uma cerveja, eu resolvi perguntar mais sobre ele, me interessei. 

- Mas me conta, você trabalha com o que? 

- Arquitetura. Na verdade eu estagio. Ainda estudo. 

OH WAIT! Pesquei um universitário? Eu sou demais nas escolhas! 

- Idade? – Eu questionei. 

- 25, recém-completados mês passado. 

Não aguentei e soltei uma risada controlada, mas de forma fofa. 

- Do que tá rindo? – Ele me perguntou rindo também. 

- Nada, na verdade nunca ia imaginar que você tem 25. Parece ser mais velho. 

- Nossa, eu tô tão acabado assim? – Ele disse brincando. 

- Não... É que sei lá, seu jeito, seu papo, sua postura, nunca imaginaria que teria 25. – Eu disse surpresa. 

- É que eu sou um cara bem legal, modesta a parte. Sei ser homem, não sou como esses por aí que saem se atracando com a primeira que vê, que não ligam quando dizem que vão ligar, que só pensam neles... 

Juro, juro que eu me contive pra não dizer: “Ah, então você é o cara inimaginável e inexistente da música do Roberto Carlos? O cara que pensa em você toda hora, que conta os segundos se você demora...” 

Eu apenas sorri e voltei a beijá-lo, me poupei de saber qualquer outra coisa que pudesse me deixar com mais vontade de rir. 

A Amandinha, como eu imaginei, pegou o vocalista lá da banda. Saíram do barzinho juntos. O João me levou em casa. Não, não foi de carro, nem de bicicleta, nem a pé, foi de táxi mesmo, hahahaha. 

Mas não trocamos telefone, ficamos de nos esbarrar lá pelo bar de novo. Sem contar que de certa forma ele sabia onde eu morava. 

Agora vamos às reflexões. 

Ele é bem bonito, tem um papo legal, tem pegada, parece ser inteligente e divertido. Mas imagina a situação: “João, pra onde vamos hoje?”, “Poxa, Helena, tenho que dar prosseguimento na minha monografia, vamos sair outro dia?”, “Não, meu universitário baby, eu vou é sair hoje mesmo, com ou sem você, boa sorte na monografia!”, hahahaha! 

Sem contar que os caras que optam por exatas, normalmente são bem doidos das ideias. Mas eu não quero saber disso, me diverti com essa minha pesca. 

Literalmente eu escolho a dedo os carinhas mais improváveis pra minha personalidade. Um universitário homem maravilha, terminando a faculdade, 25 aninhos, quanta sorte junta! Mas eu gostei dele, eu confesso. 

O balanço da noite foi ótimo, não paguei mico, não fiquei bêbada, minha calcinha não rasgou e não pensei no meu doutor. 

Mas em compensação passei por uma nostalgia tremenda que me levou a revirar fatos passados do tipo “o meu passado me condena”. 

Conto no próximo post.